Há um tempinho comprei no sebo uma edição antiga de O Grande Gatsby da Editora Abril. Essa semana bateu uma vontade grande de lê-lo, lembrei que era um dos livros favoritos da minha querida professora de literatura do ensino médio, Rejane Melo.
O Grande Gatsby, O Sol também se levanta de Ernest Hemingway e Ulisses de James Joyce configuram as principais obras da Geração Perdida. Esse termo foi empregado para designar os artistas que, após a Primeira Guerra Mundial, refugiaram-se na França, onde poderiam fazer suas manifestações artísticas. Essa eclosão das artes, especialmente a literária, não ocorreu apenas lá fora, aqui no Brasil tivemos a Semana da Arte Moderna.
Até a metade do livro não encontrei nada de impressionante, mas achei muito interessante o retrato da alta sociedade de Nova York na década de 20, a Era do Jazz. Depois, conforme ia avançando a leitura, percebi que não era uma simples e despretensiosa descrição da sociedade, mas uma reflexão sobre materialismo, uma crítica a essa sociedade.Quando comecei a leitura, fiquei surpresa com o tipo de narrador. Eu esperava um livro em terceira pessoa, como a maioria dos livros, ou então narrador-protagonista (comum também, como Dom Casmurro, O Dia do Curinga, Memórias Póstumas de Brás Cubas, etc). Mas nesse livro, há o narrador personagem, um personagem secundário que conta a história sob sua ótica. Achei bem interessante, nunca havia lido um livro com tal tipo de narrador (ou então não lembro, foram muitos).
O narrador é o Nick Carraway, um rapaz rico que foi para Nova York fazer sua própria fortuna. Nick descreve toda a efervescência da era do Jazz, os luxos da alta sociedade, as festas, os relacionamentos, toda a boemia e glamour da época. Mas por trás de todo esse glamour, começamos a observar que as relações são frágeis e que o interesse permeia essas relações. Daisy, prima de Nick, é casada com Tom Buchanam um ex-jogador muito famoso e extremamente rico, racista, mau caráter e egocêntrico (sim, detesto esse personagem), que além de todos esses defeitos é adúltero, tem um caso com Myrtle, uma mulher casada com o pobre mecânico, Wilson.
Tom, mesmo cônscio de que Nick era primo de sua esposa, faz questão de levá-lo à casa da amante, onde fala com o marido dela sobre seu carro (o carro quebrado de Tom era apenas um pretexto para frequentar a casa da amante). Depois dessa demonstração de cretinice para Nick, os amantes o levam para o apartamento dos dois, o ninho de amor. No apartamento, há mais uma crítica embutida; Myrtle, antes era até suportável, mas agora nesse ambiente de luxo e na posição de madame tornou-se insuportavelmente arrogante, pisando e humilhando os outros. As puladas de cerca do Tom eram de conhecimento público, inclusive para Daisy. Eu não sabia se sentia raiva ou dó da Daisy - só fui me decidir depois. O único inocente era Wilson, que idolatrava a mulher e não desconfiava de nada.
E o grande Gatsby?
Jay Gatsby era vizinho do Nick; um homem muito misterioso, podre de rico que dava festas espetaculares todos os dias. Nick tinha muita curiosidade sobre o vizinho e um belo dia foi convidado para uma das festas. Achei muito engraçado o momento em que eles se conheceram, começaram a conversar quando o Nick disse "o tal do Gatsby [...]", o homem responde "Eu sou o Gatsby". Achei engraçada a situação, o Nick estava numa festa e nem reconhecia o dono dela, assim como a maioria dos que estavam ali. É curioso que Gatsby dava festas sensacionais, mas não participava dela, limitando-se a cumprimentar um e outro convidado.
A princípio, Jay Gatsby se aproxima de Nick por interesse, para que Nick promovesse um encontro entre ele e sua prima Daisy. Há anos Gatsby e Daisy tiveram um romance, quando Gatsby era um pobretão e Daisy uma jovem rica. Gatsby foi para a guerra e Daisy se casou com Tom Buchanam, quebrando o coração do Jay. Mesmo se aproximando de Nick por interesse, os dois desenvolveram uma linda amizade.
Nick promove o encontro entre os dois e nesse momento vemos o outro lado do Jay, antes um homem rico e seguro, agora um tolo apaixonado que não sabia nem como agir na frente da amada. Os dois revivem o antigo amor (com a ajuda de Nick, que facilitava os encontros). Para mim, Gatsby é um dos homens mais apaixonados e românticos da literatura. Nick narra que o rosto de Gatsby resplandece quando ele está perto de Daisy, fica bobo, sem palavras.
Gatsby faz questão de exibir toda a sua riqueza e poder, não que ele fosse um homem metido e perdulário, mas fazia isso para chamar a atenção da amada, já que quando ele era pobre foi trocado pelo Tom Buchanam, um homem rico. Eu passei a detestar a Daisy: quando o Gatsby mostra sua mansão para ela e para o Nick, ela fica deslumbrada com tudo e quando ele mostra seu guarda-roupas com centenas de camisas finas, ela reage assim:
De repente, lançando um som tenso, Daisy inclinou a cabeça sobre as camisas e pôs-se a chorar ruidosamente.
- São tão lindas estas camisas! - soluçava, a voz abafada nas espessas dobras. - Isto me entristece, pois nunca vi antes camisas assim...tão bonitas. (p.115)
Se eu fosse o Gatsby, na hora me livraria dessa interesseira! Primeiro ela o deixa para se casar com um rico e depois chora de emoção diante da riqueza do Gatsby...só faltava ter a palavra interesseira estampada na cara, mas bem que dizem que o amor é cego e o Gatsby estava louco de amor por ela. Essa cena não ocorre de graça, anteriormente o Jay Gatsby lembra que não tinha nem uma roupa para encontrar sua amada, usava sempre o mesmo uniforme do exército, mas agora na bonança, ele tem um guarda-roupa de dar inveja. Gatsby ainda convida ela e seu marido para uma das famosas festas na mansão, para a qual fez questão de convidar diversas celebridades só para impressionar ainda mais a Daisy e enfurecer Tom de ciúmes e inveja.
Tom percebendo o que se passava entre sua esposa e Gatsby, começa a hostilizá-lo e sugerir que toda a sua riqueza era proveniente do contrabando de bebidas, do que Nick discorda. Bem, a origem da fortuna do Gatsby não é certa, é misteriosa. Mas ninguém ao seu redor ligava para isso, o que importava para os parasitas interesseiros era se aproveitar dos luxos de Jay. Creio que os únicos sentimentos verdadeiros na obra são: o grande amor de Gatsby por Daisy, o amor de Wilson por Myrtle, a amizade entre Nick e Gatsby e o amor de todos os outros pelo dinheiro.
Meus dedinhos estão coçando para escrever mais revelações bombásticas sobre o livro, mas não farei isso.o que acontece depois é uma reviravolta incrível. Pegou-me de surpresa e me faz amar o livro, pois traz uma reflexão muito boa que serve para todos nós, ricos ou pobres.
Esse é um daqueles livros que marcam, porque não se trata só de literatura para entretenimento, mas também literatura de reflexão, de crítica social. Dias após o término da leitura, ainda fiquei pensando sobre o livro; com raiva de alguns personagens e com pena de outros, e pensando como há pessoas ingênuas como o Jay Gatsby no mundo...
Agora preciso ver as adaptações para o cinema:
1949
2013
Myrtle (Isla Fisher), Tom Buchanam (Joel Edgerton), Daisy (Carey Mulligan), Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), Jordan (Elizabeth Debicki) e Nick Carraway (Tobey Maguire)
Ainda não assisti, mas gostei bastante da escolha do elenco, acho que o DiCaprio e Maguire se encaixam bem no papel e Carey Mulligan tem a cara de sonsa trágica da Daisy, até imagino ela chorando sobre as camisas finas do Gatsby.
Li críticas bem negativas sobre a adaptação de 2013, mas quero muito ver por conta do figurino dos anos 20, nesse quesito o filme não deixou a desejar:
Isla Fisher linda, sempre ruiva!
O figurino não é de babar? Quando (se) assistir ao filme, virei comentar no blog.
Ficha técnica:
Título: O Grande Gatsby
Autor: F. Scott Fitzgerald
Editora: Abril
Ano: 1980
Páginas: 221
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