Minha última leitura de Agosto foi "Deixa Ela Entrar" do autor sueco John Ajvide. Conheci esse livro através do filme também sueco "Deixa Ela entrar", lançado em 2008. Li críticas bárbaras a respeito desse filme premiadíssimo ("apenas" 58 prêmios), assisti e amei. Apesar de ter adorado o filme, fiquei um pouco insatisfeita porque ele me deixou com muitas dúvidas, parecia que a história estava incompleta e o filme apenas sugeria, não contava. Pesquisei e descobri o livro que deu origem ao filme, então para saciar minha imensa curiosidade a respeito da história, comprei-o.
Depois que li, finalmente entendi por que o filme ocultou tantos acontecimentos presentes no livro, dando a sensação de estar incompleto, vago. A resposta é: o livro é pesadíssimo, muito tenso, aborda assuntos muito polêmicos de forma nua e crua, como a pedofilia, por exemplo. Temas e fatos que não seriam apropriados para o filme. Portanto, se você apenas assistiu, faça o favor a si mesmo de ler o livro! O filme é ótimo, o livro mais ainda!
O protagonista é Oskar, um menino de 13 anos extremamente solitário. Ele é inteligente, adora ler quadrinhos e ouvir KISS. Seria um menino feliz e comum, se não fosse pelo bullying que sofre diariamente na escola. As cenas de bullying são cruéis e me deixaram revoltadíssima. Oskar era submetido a agressões físicas e torturas psicológicas, não podia nem responder às perguntas do professor, senão deixaria seus perseguidores zangados. Os meninos, geralmente um três, obrigavam Oskar a imitar um porco, davam "descarga" na sua cara, batiam nele com varas...cenas de terror. A aflição de Oskar era tão grande, que ele fez a Bola de Mijo, um pedaço de espuma que ele tirou do colchão para colocar na genitália pra absorção do xixi, pois o coitado não segurava na hora do nervosismo. Devido a sua situação, não tinha amigos na escola e nem fora dela, afinal, ninguém queria ser amigo de um loser. E os pais? Os pais do Oskar eram separados, apesar de não terem uma boa relação entre si, Oskar era muito bem amado e querido pelos dois. Sua mãe, embora super coruja e protetora, trabalhava o dia inteiro e não ficava a par do bullying que o filho sofria.
Oskar começou a imaginar a morte dos seus perseguidores, começou a imaginar tudo o que faria com eles. Fazia coleção de recortes de notícias sobre assassinatos e serial killers e sentia prazer ao ler tais notícias. Quase diariamente ia ao bosque com uma faca que roubara, para simular o assassinato dos seus agressores, um tronco de árvore era o alvo. E assim temos o vislumbre de um potencial assassino, psicopata oriundo do bullying.
Eu sofri MUITO com o Oskar. Pensava "Meu Deus, não pode continuar assim! ALGUMA COISA tem que acontecer!", na verdade "Alguém aconteceu" na vida do Oskar; depois que Eli se tornou sua vizinha, tudo mudou. Os dois se encontraram pela primeira vez no parquinho em frente ao prédio onde moravam, numa noite muito fria. Eli tinha um aspecto muito sujo, fedia (segundo Oskar, ela fedia a ferida, eca!), era estranha e estava vestida apenas com uma blusinha rosa fina, não sentia frio. Esse foi o primeiro encontro de muitos, sempre no mesmo lugar, sempre à noite. Oskar estranha o fato de ela aparecer somente à noite, e de as janelas do seu apartamento estarem sempre cobertas com papelão.
Uma bela amizade se desenvolve e é Eli quem estimula Oskar a revidar as agressões que sofria. Mas muito mistério envolvia Eli e o senhor com quem ela morava. Quem era Hakan? O pai ou avô de Eli? Quem observa essa "família", pensa que Hakan é o pai de Eli, mas nós leitores sabemos que a relação deles não tem nada de paternal, é doentia. No filme não é esclarecido quem é Hakan. Só para confirmar uma questão que o filme sugeriu: Sim, Eli é um menino centenário preso num corpo de 12 anos, por isso na cena em que ela está se trocando, mostra que ela não tem nada "lá", apenas um cicatriz, indicando que o bilau foi cortado. Não, não é spoiler, gente que não leu o livro! Desde os primeiros contatos entre Eli e Oskar, Eli já dá indícios "Você gostaria de mim mesmo que eu não fosse uma menina?" Sobre a relação entre Eli e o velho com quem vive, não vou falar nada! lalala...
Apesar de haver personagem vampiro no livro, creio que não se encaixa no gênero terror. A intenção do autor não parece ser aterrorizar, amedrontar o leitor, mas mostrar o drama da solidão, o drama da condição de ser um vampiro e uma amizade incomum. Quando falo de solidão, me refiro à solidão do Oskar devido ao bullying e à eterna solidão de Eli, devido à sua condição de vampiro e através desse sentimento em comum nasce uma pura amizade entre eles.
Uma coisa que AMEI no livro foi o tom realista sobre bullying e também - principalmente - sobre vampirismo. O autor aborda a maldição do vampirismo de forma nua e crua. Ressalto a palavra maldição, porque hoje em dia os filmes, séries e livros sobre vampiro mostram mais a "beleza", "qualidades" e o "lado bom" de ser vampiro (entre aspas, porque não vejo lado bom), tomo como exemplo a série The Vampire Diaries e Crepúsculo; em The Vampire Diaries notem que todos os vampiros são lindos e possuem habilidades que todo mundo gostaria: velocidade, capacidade de compelir, regeneração, excepcional audição, etc. Em Crepúsculo, a vida dos Cullen parece ser um mar de rosas: todos são perfeitamente lindos (na opinião geral, porque eu os acho muito artificiais), são podre de ricos, cada um possui um "poder" diferente (parece até X-men), são fortes e velozes. Observando TVD e Crepúsculo, até parece que a vida do vampiro é uma festa (se bem que TVD também mostra o lado ruim em algumas ocasiões). Mas se você quer conhecer mesmo a maldição de ser vampiro, leia "Deixa Ela Entrar". Eli é descrita como uma criança bonita, mas estranha, que fede, que veste sempre a mesma roupa, que vive numa solidão sem fim, sem família, sem amigos, sem raízes, sendo obrigada a se mudar sempre. Nada é bonito, nada é admirável.
Como eu disse, não se trata de um livro de terror, mas confesso que em alguns momentos eu fiquei tão impressionada a ponto de ficar amedrontada; na parte em que uma figura monstruosa (não posso revelar quem, mas não é Eli) estava no necrotério "vivíssima" enquanto os outros pensavam que estava morto e outra parte dessa mesma figura num porão escuro. Gente, é sério, deu até arrepios. Outra parte que deu MUITOS arrepios, não pelo terror, mas pela riqueza de detalhes horríveis, foi a parte sobre a transição de um personagem para vampiro. Fiquei cho-ca-da, até enjoada! A personagem não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo com ela e entrou em aflição, nós leitores também entramos em aflição, morrendo de pena da personagem e passando mal com as cenas de horror.
Encerro aqui meus comentários sobre o enredo do livro, reforço a indicação, principalmente para quem gosta de histórias de vampiros de verdade, que seguem a tradição. Mas prepare-se, porque o livro é chocante e doentio.
Sobre o título, os fãs das histórias vampirescas tradicionais devem ter entendido. Deixa Ela Entrar se refere ao fato de um vampiro só poder entrar num ambiente fechado, se for convidado, a pessoa tem que falar para o vampiro "deixo você entrar".
Há duas adaptações para o cinema; Deixa Ela Entrar (Let The Right On In), que é a versão original sueca, e Deixa-me entrar (Let Me In) que é a cópia americana.
Ficha técnica:
Oskar começou a imaginar a morte dos seus perseguidores, começou a imaginar tudo o que faria com eles. Fazia coleção de recortes de notícias sobre assassinatos e serial killers e sentia prazer ao ler tais notícias. Quase diariamente ia ao bosque com uma faca que roubara, para simular o assassinato dos seus agressores, um tronco de árvore era o alvo. E assim temos o vislumbre de um potencial assassino, psicopata oriundo do bullying.
Eu sofri MUITO com o Oskar. Pensava "Meu Deus, não pode continuar assim! ALGUMA COISA tem que acontecer!", na verdade "Alguém aconteceu" na vida do Oskar; depois que Eli se tornou sua vizinha, tudo mudou. Os dois se encontraram pela primeira vez no parquinho em frente ao prédio onde moravam, numa noite muito fria. Eli tinha um aspecto muito sujo, fedia (segundo Oskar, ela fedia a ferida, eca!), era estranha e estava vestida apenas com uma blusinha rosa fina, não sentia frio. Esse foi o primeiro encontro de muitos, sempre no mesmo lugar, sempre à noite. Oskar estranha o fato de ela aparecer somente à noite, e de as janelas do seu apartamento estarem sempre cobertas com papelão.
Uma bela amizade se desenvolve e é Eli quem estimula Oskar a revidar as agressões que sofria. Mas muito mistério envolvia Eli e o senhor com quem ela morava. Quem era Hakan? O pai ou avô de Eli? Quem observa essa "família", pensa que Hakan é o pai de Eli, mas nós leitores sabemos que a relação deles não tem nada de paternal, é doentia. No filme não é esclarecido quem é Hakan. Só para confirmar uma questão que o filme sugeriu: Sim, Eli é um menino centenário preso num corpo de 12 anos, por isso na cena em que ela está se trocando, mostra que ela não tem nada "lá", apenas um cicatriz, indicando que o bilau foi cortado. Não, não é spoiler, gente que não leu o livro! Desde os primeiros contatos entre Eli e Oskar, Eli já dá indícios "Você gostaria de mim mesmo que eu não fosse uma menina?" Sobre a relação entre Eli e o velho com quem vive, não vou falar nada! lalala...
Apesar de haver personagem vampiro no livro, creio que não se encaixa no gênero terror. A intenção do autor não parece ser aterrorizar, amedrontar o leitor, mas mostrar o drama da solidão, o drama da condição de ser um vampiro e uma amizade incomum. Quando falo de solidão, me refiro à solidão do Oskar devido ao bullying e à eterna solidão de Eli, devido à sua condição de vampiro e através desse sentimento em comum nasce uma pura amizade entre eles.
Uma coisa que AMEI no livro foi o tom realista sobre bullying e também - principalmente - sobre vampirismo. O autor aborda a maldição do vampirismo de forma nua e crua. Ressalto a palavra maldição, porque hoje em dia os filmes, séries e livros sobre vampiro mostram mais a "beleza", "qualidades" e o "lado bom" de ser vampiro (entre aspas, porque não vejo lado bom), tomo como exemplo a série The Vampire Diaries e Crepúsculo; em The Vampire Diaries notem que todos os vampiros são lindos e possuem habilidades que todo mundo gostaria: velocidade, capacidade de compelir, regeneração, excepcional audição, etc. Em Crepúsculo, a vida dos Cullen parece ser um mar de rosas: todos são perfeitamente lindos (na opinião geral, porque eu os acho muito artificiais), são podre de ricos, cada um possui um "poder" diferente (parece até X-men), são fortes e velozes. Observando TVD e Crepúsculo, até parece que a vida do vampiro é uma festa (se bem que TVD também mostra o lado ruim em algumas ocasiões). Mas se você quer conhecer mesmo a maldição de ser vampiro, leia "Deixa Ela Entrar". Eli é descrita como uma criança bonita, mas estranha, que fede, que veste sempre a mesma roupa, que vive numa solidão sem fim, sem família, sem amigos, sem raízes, sendo obrigada a se mudar sempre. Nada é bonito, nada é admirável.
Como eu disse, não se trata de um livro de terror, mas confesso que em alguns momentos eu fiquei tão impressionada a ponto de ficar amedrontada; na parte em que uma figura monstruosa (não posso revelar quem, mas não é Eli) estava no necrotério "vivíssima" enquanto os outros pensavam que estava morto e outra parte dessa mesma figura num porão escuro. Gente, é sério, deu até arrepios. Outra parte que deu MUITOS arrepios, não pelo terror, mas pela riqueza de detalhes horríveis, foi a parte sobre a transição de um personagem para vampiro. Fiquei cho-ca-da, até enjoada! A personagem não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo com ela e entrou em aflição, nós leitores também entramos em aflição, morrendo de pena da personagem e passando mal com as cenas de horror.
Encerro aqui meus comentários sobre o enredo do livro, reforço a indicação, principalmente para quem gosta de histórias de vampiros de verdade, que seguem a tradição. Mas prepare-se, porque o livro é chocante e doentio.
Sobre o título, os fãs das histórias vampirescas tradicionais devem ter entendido. Deixa Ela Entrar se refere ao fato de um vampiro só poder entrar num ambiente fechado, se for convidado, a pessoa tem que falar para o vampiro "deixo você entrar".
Há duas adaptações para o cinema; Deixa Ela Entrar (Let The Right On In), que é a versão original sueca, e Deixa-me entrar (Let Me In) que é a cópia americana.
Eu amei o filme sueco. A atuação dos protagonistas foi maravilhosa, especialmente da atriz Lina Leandersson, a Eli. Sei que muita gente pode discordar, mas achei bem desnecessário fazer uma versão americana. O filme sueco é maravilhoso, é completo, é coerente, foi muito bem premiado (recebeu 58 prêmios), então pra quê outra versão, claramente inferior? Eu ADORO a atriz Chloe Moretz, que é a Eli na versão americana, ela é linda, é talentosa, é caristimática...MASSS não se encaixa para o papel do vampiro Eli, é lindinha e cute demais para ser o vampiro estranho. Se eu não tivesse lido o livro, talvez aceitasse numa boa a Chloe no papel na Eli, mas definitivamente ela não combina com as descrições do personagem do livro. Bom, preciso assistir a versão americana, mas não estou lá muito empolgada.
Lina Leandersson
Kåre Hedebrant (Oskar) e Eli
O livro é maravilhoso! Uma edição linda da Globo Livros: o título é em alto relevo, a capa é emborrachada, as letras são ótimas para leitura, as páginas amareladas, enfim, uma da minhas melhores aquisições de 2013. O preço é um pouco salgado e infelizmente é pouco provável que você o encontro numa daquelas maravilhosas promoções do Submarino, mas o Extra e o Ponto Frio geralmente dão um bom desconto. (Acho que paguei 31, o preço é 50)
Ficha técnica:
Título: Deixa Ela Entraar
Autor: John Ajvide Lindqvist
Editora:Globo
Ano: 2012
Tradução: Marisol Santos Moreira
Autor: John Ajvide Lindqvist
Editora:Globo
Ano: 2012
Tradução: Marisol Santos Moreira
Páginas: 500
Nenhum comentário:
Postar um comentário